quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Fernando Duarte fala tudo sobre a Secretaria de Cultura de Pernambuco


Texto: Diana Moura para o Jornal do Commercio

O barulho feito por artistas que reivindicam o pagamento de cachês do último Carnaval tem ofuscado as políticas culturais implementadas pelo governo do Estado. Chamado para a pasta há dois anos, com a missão, entre outras, de resolver as pendências financeiras com os músicos, o tranquilo secretário de Cultura de Pernambuco, Fernando Duarte, demonstrou uma ponta de irritação pública pela primeira vez desde que assumiu o setor. Considerado pelos assessores e colegas de trabalho como um gestor extremamente organizado, meticuloso e perseguidor da exatidão no gasto com o dinheiro público, Fernando reclamou da falta de precisão de algumas críticas que recebeu.

“As críticas foram generalizadas, não distinguiram as situações. Algumas coisas que disseram do governo do Estado são injustas”, afirma, apontando para uma resma de papel que guarda relatórios sobre sua prestação de contas.

O assunto incômodo fez o tímido Fernando sair da toca. Avesso a badalações e a colunas sociais, o secretário de Cultura é conhecido pela discrição. Desde que tomou posse, concedeu pouquíssimas entrevistas e evitou a imprensa até mesmo no momento mais crítico da sua gestão, quando recebeu o cargo em meio a uma crise de pagamentos de cachês da Fundarpe que ganhou dimensão institucional (o governo não revela as cifras totais dos débitos).

Com um orçamento de R$ 116 milhões, sendo R$ 33 milhões (29%) para o Funcultura (fomento para artistas e produtores), o secretário tem que dar conta da formação de público e de artistas, investir na preservação do patrimônio do Estado, e manter museus e galerias. Para isso, ele atrela seu trabalho a conceitos sólidos. Veja alguns dos pontos que defende para a gestão cultural

CACHÊS 

"A questão dos cachês não é uma questão menor. É essencial. É importante que a pessoa que vai ser contratada tenha certeza que vai receber e que esse pagamento seja cada vez mais rápido, e estamos trabalhando para isso. Apesar de ser importante, não é o centro de uma política cultural. No centro dessa política estão a regionalização, a ampliação das oportunidades para público e artistas, a democratização e transparência dessas oportunidades, a tentativa de incluir novos segmentos culturais nas ações do Estado, a relação com o público, a gestão do patrimônio e dos equipamentos culturais. Temos buscado ações para cada um destes aspectos."

ARTISTAS

"A política do governo do Estado é extremamente parceira da música independente, alternativa, e da cultura popular. Artistas como China, Eddie, Nação Zumbi, Alessandra Leão, Karina Buhr, Caçapa, são nossos parceiros, estiveram na grade de todos os nossos festivais. Na verdade, estamos promovendo debates com as prefeituras e com o público, em todas as montagens de festivais no interior, para uma valorização cada vez maior da criação estética desses artistas. Isso vai na direção também de garantir cortejos da cultura popular, de reunir o que temos de melhor do pop e do rock, das orquestras de frevo, etc."

FESTIVAIS 

"A montagem da grade de atrações de um festival é algo de muita complexidade e responsabilidade. Uma montagem interessante é a que reflete comportamentos e gostos estéticos diferentes, que compreende a formação do público, o diálogo de gerações, a diversidade da cultura pernambucana, e que possibilita, a novos artistas e grupos populares, o aprendizado de subir no palco e de gerir suas carreiras de artistas (com a documentação necessária para ser contratados pelos Estado)."

"Tudo que tem movimentação na cena pernambucana nos interessa."

EVENTOS 

"Os shows podem fazer parte de uma política cultural mais perene. É só uma questão de direção. Se eu não faço show, onde vai se dar a formação de público para a música pernambucana? Essa questão é fundamental. Há uma falsa discussão desse tema. Não há possibilidade da arte sem o evento. O evento é uma culminância do processo de criação. Quando eu faço oficinas, cursos, seminários, faço em função da produção. Um seminário existe para qualificar a produção. Uma pesquisa deve estimular uma reflexão sobre a produção. Tudo está em função daquilo que a arte produz. E aqui dou um status de arte à cultura e à tradição. Você não aprende cavalo-marinho na escola, mas vendo o corpo do brincante que dança cavalo-marinho. Não tenho nada contra a escola, pelo contrário, mas existe na cultura pernambucano outros tipos de transmissão de conhecimento que são importantes e devem ser reconhecidos enquanto tal. Não há contradição. Quando pensamos na grade de um festival, não pensamos como entretenimento, mas como formação de público e de novos artistas."

EQUIPAMENTOS

"Para que serve o equipamento cultural se não for para expor a arte, realizar seminários, oficinas, ou seja, fazer eventos? A finalidade de um museu, um teatro, é ter uma programação. Tem que ser ativo, ter condições de funcionamento (limpeza, conservação, infraestrutura, acervo, pessoal capacitado), possuir um perfil definido e adequado às necessidades do seu público. Estamos trabalhando nisso. Esse perfil precisa ser construído de forma coletiva com gestores, artistas e público. E precisamos de recursos – por estamos dotando os equipamentos de um orçamento específico."

PREFEITURAS

"Não tenho nenhuma dificuldade no diálogo com as prefeituras. Quando mostramos a amplitude e a qualidade dos artistas que temos, todas se convencem. Muitos gestores dessas prefeituras nos ligam depois, para dizer que gostaram do artista que tiveram a oportunidade de conhecer e que pretendem contratá-los em outras oportunidades. Essa articulação entre artistas que representam a cultura pernambucana e as prefeituras faz parte do nosso trabalho."

PÚBLICO 

"O principal público da Secretaria de Cultura é a população. Cria-se uma política pública para atender à população. Quando começo a discutir isso, começo a falar de acesso, de diversidade cultural, de informação. Por isso, o Estado deve ampliar a diversidade da oferta artístico-cultural, para que se possa formar público para a arte produzida aqui."

ARTISTAS 

"O Estado não faz arte nem cultura. Quem faz são os artistas. Eu conto com eles para fazer a política cultural. O papel do Estado é o de viabilizar a exposição da arte, pode fomentá-la, mas não faz arte." 

LINGUAGENS

"Dentro de cada segmento (música, teatro, dança, literatura, artes plásticas, cinema, por exemplo), há necessidades específicas, questões que às vezes podem ser resolvidas com pouca verba, dinheiro para um curso, organização de um seminário, ações que não necessariamente têm que passar pelo Funcultura. Também estamos tentando construir uma política de projetos e programas vinculados às soluções para esses setores."

FUNCULTURA

"Estamos pesquisando o impacto do Funcultura para o Estado. O fundo colocou R$ 97 milhões na cultura pernambucana nos últimos três anos. Precisamos mensurar qual o impacto disso na organização de produtores e artistas."


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