Até semana passada, os investidores permaneciam animados no Brasil. Com a publicação dos dados fiscais de setembro, a previsão era de um 2022 muito razoável. No entanto, os boletins já alertavam para o que poderia estragar o céu de brigadeiro: a incerteza gerada pelas sinalizações do governo Bolsonaro em relação ao orçamento de 2022 e o seu compromisso com o ajuste fiscal.
Segundo a colunista Thaís Oyama, no sábado, a declaração de Bolsonaro de que tem um temeroso "plano B" para o caso de a PEC dos Precatórios não ser aprovada e a possibilidade de que esse plano passe por heterodoxias como a decretação de estado de calamidade deixaram claro que o governo está disposto a se jogar no poço da irresponsabilidade fiscal se este for o preço da reeleição do ex-capitão.
Diante disso, a alegria do pobre durou pouco. A ata do Copom publicada nesta manhã diz que "questionamentos relevantes em relação ao futuro do arcabouço fiscal atual" resultaram em "elevação dos prêmios de risco" e "das expectativas de inflação", o que implica "maior probabilidade para cenários alternativos que considerem taxas neutras de juros mais elevadas".
Em outras palavras, o que o Banco Central disse foi que o governo está metendo os pés pelas mãos e isso vai levar a um aumento brutal dos juros.
O mercado já aposta numa elevação da Selic para 12% ao ano — lembrando que cada ponto a mais na taxa básica de juros representa um impacto na dívida pública de R$ 35 bilhões a 40 bilhões.
Um experiente analista de mercado diz que os agentes financeiros aceitariam resignados um aumento temporário da despesa. Mas não reagirão da mesma forma diante da percepção de que o furo no no teto de gastos —agora cinicamente chamado por aliados do governo de "teto solar", dado que desliza ao sabor dos elementos— será muito maior que os R$ 30 bilhões sugeridos e tem como propósito viabilizar barganhas políticas com vistas à eleição.