quinta-feira, 20 de junho de 2013

ARTIGO: Manifestação mostra politização dos nossos jovens - Por José Sales - Criança



Jovens nas ruas protestando contra injustiça, corrupção, violência e políticas sociais, devem ser tratados como sinal de vida. A Democracia não é um regime do sossego, de harmonia plena. A democracia é um sistema de conflito de interesses e de suas mediações, portanto, nem podemos ver estas manifestações como uma rebelião total, nem podemos desconhecer que algo está errado, algo está faltando.

O sentido geral do movimento não pode ser medido por ações de vandalismo de pequenos ou micros grupos, que radicalizados, aproveitam estes momentos para explodir suas intenções. O que começou com uma crítica justa ao sistema de transporte, que sendo público, é majoritariamente controlado por interesses e políticas de grupos privados, que juntos são responsáveis pelo preço caro e de um serviço de baixa, muito baixa qualidade do nosso sistema “Público” de Transporte. Mas, o grito toma outra dimensão, alertando-nos para as prioridades da sociedade brasileira, como a educação e a saúde que são de reconhecida deficiência.

É importante localizar alguns episódios deste dia, um grito latente de parte da sociedade que desperta para seu justo direito de exigir melhor qualidade de vida, melhores políticas, melhores investimentos e avanços na cidadania. A tentativa de invasão do Congresso e de Casas Legislativas, dá sequência a outros episódios recentes, como a invasão do plenário da Câmara pelos índios, que protestavam contra a ameaça de alterar a política de demarcação de terras no Brasil, bem como no passado, a invasão do mesmo ambiente pelos trabalhadores rurais do MLST e vários estudantes em 2006. 

Não estranho este novo episódio, mais cedo ou mais tarde isto iria acontecer. A agenda do Congresso tem sido a prioridade dos grupos econômicos, dos ricos do Brasil. Os interesses sociais estão sendo deturpados, como na criminosa legislação ambiental, pretendida pelos ruralistas, ou em legislações intolerantes e preconceituosas em relação a costumes e ou interesses religiosos. Este recado dado pelos jovens, ou melhor, este “conselho” dado pela juventude, é que deve ser ouvido pelas autoridades e por todos que tenham responsabilidade social e com a democracia.

Os protestos contra as coberturas destorcidas das mobilizações, como os feitos principalmente pela Globo e seus seguidores, foi também um recado direto aos interesses dos (mercado) grupos econômicos, que tentam impor uma opinião e seus interesses contra a maioria da população. Outra variante destes gritos é a rejeição a presença de partidos nos atos. Há de fato um hiato entre partidos de esquerda e essa militância emergente, já os partidos de direita por natureza, tem sempre um desprezo pelo grito rebelde dos jovens.

O ruim nisso, é que partidos como o PT, não tenham estimulado a formação política, o debate e a temática da juventude, nas suas ações programáticas e na sua organização. Numa sociedade complexa e ampla como a nossa, nem todas as bandeiras devem vir de partidos. É na luta que surgem novos atores políticos, sociais, ambientais, de costumes e valores, etc. O recado está dado também contra os gastos públicos com a Copa e a prioridade dos gestores públicos.

Por isso é mais do que justo que a proposta de 100% dos royalties do petróleo para educação. Além disso, é hora do Congresso observar a agenda política e social de sua atuação. Também é bom alertar aos oportunistas que querem ver nestas mobilizações, espaços para desgastar o governo ou tirar dividendos eleitorais futuros.

Há uma onda contra à “Política” e ao mesmo tempo há um processo de politização nesses jovens, que saem das redes sociais e ganham as ruas. Não devemos temer o grito das ruas! Pelo contrário, devemos saudar essa geração que está debutando na militância e assumindo papel político e social. Ao mesmo tempo, está tendo o aprendizado das ruas de uma sociedade capitalista e sua luta de classes, seus conflitos e confrontos. Viva a rua, “a maior arquibancada do Brasil!”

RÁDIO MÚSICA BRASIL MPB

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