Como decorrência desse contexto, ou perda de confiança nas instituições para resolvê-lo, ou mesmo pelo aparecimento de novos elementos indutores de indignação, é visível que o ambiente nacional descortina certo ar de tensionamento social (rolezinhos, vandalismo, insegurança, mobilidade, apagões, copa do mundo, inflação, baixo crescimento, etc.).
As pesquisas eleitorais são um bom termômetro dessa ambiência e funcionam como caixa de ressonância do pensamento da população. A queda na avaliação positiva do governo Dilma Rousseff é reflexo desse quadro turvo da conjuntura do país.
O Instituto MDA acaba de publicar pesquisa nacional sobre vários tópicos, encomendada pela Confederação Nacional do Transporte, realizada entre os dias 9 e 14 de fevereiro de 2014, com margem de erro é de 2,2 pontos percentuais.
Em termos de intenção de votos, no cenário mais provável, a presidente Dilma Rousseff continua liderando com folga a corrida presidencial e ganharia no primeiro turno se a eleição fosse hoje (registre-se que nesse cenário mais provável os oponentes da “oposição” são relativamente pouco conhecidos do eleitorado).
Ela obteve 43,7% das manifestações de voto, contra 17% de Aécio Neves e 9,9% de Eduardo Campos. Os votos brancos, nulos e indecisos somaram 29,4%
Esses números são praticamente iguais aos que o mesmo MDA detectou no final de outubro do ano passado, para idêntico cenário. O que significa que nesses últimos três meses e meio o quadro eleitoral permanece inalterado.
Isso se deve em parte ao desinteresse dos eleitores pela eleição neste momento do calendário eleitoral. Basta dizer que 62,1% deles disseram na pesquisa que estavam sem nenhum interesse na eleição (32,7%) ou pouco interessado nela (29,4%). Os quase 30% de brancos, nulos e indecisos reforçam esse alheamento do eleitor.
Uma leitura inevitável da letargia dos números da pesquisa é a de que nem oposição nem situação conseguiram capitalizar, pelo menos até agora, os sentimentos de mudança embalados das manifestações de rua de junho passado e expressos em levantamentos recentes do Ibope e do Datafolha.
Enquanto as intenções de voto neste estágio do certame dependem ainda dos cenários que se desenham a avaliação de governo é mais refratária à composição do leque de candidaturas e tende a revelar um posicionamento bem definido da percepção do eleitor sobre a gestão em curso.
O gráfico que acompanha o texto mostra a avaliação do governo Dilma Rousseff nos meses de agosto a fevereiro, mensurada pela soma das manifestações de ótimo e bom captadas em 12 pesquisas nacionais de diferentes institutos e cujas médias de cada mês estão sobre a linha traçada.
Por esta última pesquisa do MDA, a avaliação positiva da presidente retorna aos patamares imediatamente posteriores à crise de junho, interrompendo uma trajetória ligeiramente ascendente que se iniciara em outubro.
Em relação ao próprio levantamento do MDA, do final de outubro passado, a popularidade da presidente cai três pontos, embora nas proximidades da margem de erro. É bom lembrar, ainda usando levantamentos do MDA, que antes das vozes da rua a presidente alcançava 54,2% de ótimo e bom, em junho, contra apenas 9% de avaliação negativa (ruim mais péssimo).
A constância das intenções de voto somada à queda na avaliação de governo pressupõe dificuldades da presidente em angariar apoios recentes da população, inobstante todas as imensas vantagens inerentes ao exercício da incumbência.
As pesquisas subsequentes trarão novos elementos para análise e possibilitarão prospectar tendências mais definidas, embora as mais relevantes sejam aquelas realizadas pós-copa do mundo e a partir do guia eleitoral.
Maurício Costa Romão, Ph.D. em economia, é consultor da Contexto Estratégias Política e Institucional, e do Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau.