Lado a lado, Ivan Rodrigues e Ivo Amaral. foto: Wagner Marques |
Fui convocado por Ronaldo Cesar para escrever alguma coisa sobre o aniversário de Ivo Amaral e não queremos falar nos anos decorridos. Não tem graça nenhuma referir-se à nossa condição de anciões. É fato público e notório e prefiro ressaltar a nossa amizade e o respeito que nunca faltou em nossas relações pessoais.
Quando se fala atualmente em “política nova”, “gestão pública moderna”, “nova forma de fazer política”, somos obrigados a relembrar o estilo que sempre marcou nossa conduta nos últimos quarenta anos. Pra nós, nenhuma novidade!
As circunstâncias da maldita ditadura de 64 nos distanciaram politicamente, mas nenhuma intercorrência conseguiu nos incompatibilizar pessoalmente. Muita gente ainda nos critica e, aferrados às velhas práticas, não reconhecem que a verdadeira política (não as politiquices) pode ser exercida com dignidade e decência, sem confundir os debates necessários com as querelas pessoais que não levam a nada em benefício da população.
Na campanha para Prefeito em 1976, em que nos confrontamos diretamente, jogaram uma bomba na minha casa e a minha raiva não foi com a bomba, mas com a decepção por não ter recebido um simples telefonema de Ivo só para reiterar o que eu já sabia com certeza, à exaustão, de que ele não tinha qualquer responsabilidade com o episódio.
Não consigo esquecer que há cerca de 15 anos, quando meu filho José Ivan sofreu um grave problema de saúde que lhe rendeu vinte dias de UTI e mais outro tanto de internação hospitalar, invariavelmente todos os dias, o primeiro telefonema que recebia era de Ivo pedindo notícias de meu filho.
Ele nem desconfia do orgulho que senti quando, em uma das famosas reuniões promovidas pelo PSB-Garanhuns que marcaram uma nova forma de fazer política em nossa terra, Ivo Amaral compareceu pessoalmente e, numa saudação afetuosa, me confiou de público a construção da vida política do seu filho Ivo Júnior e do seu neto Rafael, ao abrigo do nosso PSB. Nunca lhe falei do meu sentimento e só agora, nesta oportunidade, me desnudo e revelo as fragilidades da minha vaidade.
Tenho o maior orgulho desse fato que revela, de forma inestimável, a grandeza, a segurança e o respeito de nossa amizade.
Tenho grande admiração pelo nosso poetinha Vinicius de Moraes e esse texto me parece um dos seus melhores poemas que, nesta hora, infinitamente melhor do que eu diria, fala por mim com mais propriedade:
“AMIGOS (Vinícius de Moraes)
Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos. Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles. A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor. Eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade.
E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências.
A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem. Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida. É delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não os procure. E às vezes, quando os procuro, noto que eles não têm noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente, construí.
E me envergonho, porque essa minha prece é em síntese, dirigida ao meu bem estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo. Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles. Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer.
Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente os que não desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus amigos!
A GENTE NÃO FAZ AMIGOS, RECONHECE-OS!”
A mensagem de Vinicius fala por mim e é suficiente!
Grande abraço de Ivan Rodrigues.